quarta-feira, 29 de outubro de 2008

mais um pequeno texto...


e se fosse terça?

Nunca pensou que correria sábado à noite. Não houve, no entanto, alternativa melhor para sair do marasmo deprimente no qual se encontrava..

Que tenha passado outras noites de sábado só... Isso é obvio. Mas há vezes em que a solidão ultrapassava os limites suportáveis.

Escolheu a Lagoa. Levou um aparelho para ouvir música e o telefone celular na esperança de receber aquela ligação que poria fim a toda essa bobagem metafísica.

Começou a corrida ouvindo jazz, estilo que muito combinava com o ambiente a sua volta. A estranha neblina noturna não respeitava o seu limite e trespassava sem dó, mas com delicadeza, seu corpo. Sentia-se inexistente. Não mais só como pessoa, mas só como uma vida em meio a tantas outras coisas. Essa nova realidade mudou tudo: que importava um sábado à noite só? Que fosse assim, tão melhor nessa breve parte de sua não-existência.

Os carros passavam mais rápido que corria em seu ritmo constante. As luzes dos faróis se misturavam, chegando aos seus olhos fracas e indefinidas. O barulho do movimento mecânico já era uma trilha sonora melhor que o jazz – era música do mais refinado tipo. A água escura – esqueça-se que poluída – da Lagoa em leves ondulações... Ah, o que é sábado à noite? Qual a importância disso tudo?!

Prestes a iniciar um movimento eterno, circular como o local e as idéias impunham, avistou uma parte da Lagoa em que havia restaurantes, ali mesmo, entre os caminhos a serem percorridos. De súbito, surgiram pessoas, muitas pessoas. Tal qual a luz agressiva que invade a escuridão, aqueles tomaram sua solidão.

Nem um pouco vexados por desrespeitar o espaço particular de alguém, não se deram por satisfeitos e ainda foram em grupos de dois! Casais? Triste para quem corresse só – sinceramente, quem o faria a essa hora? -, mas se fosse perguntar-lhes... diriam: "Sim, estamos juntos", com um sorriso bobo e distraído de quem vive um bom sábado à noite.

Parou de correr, porque sua calma solidão já não mais existia. Fora muito exigente... que correspondência, que nada! Que seja! Pegou o celular e re-discou um número recente:

"Querido... Não dá, eu topo sua sugestão. Esquece o que eu disse. Cê ainda pode??"

Foi para casa se arrumar. Ai, como dói essa bobagem metafísica. Naquele sábado amaria.


E amou. Amou como a Lagoa e os carros passando a ordenaram, mas ela custou tanto a ouvir... Amou como pessoa.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Com licença

Com devida permissão de um amigo meu, Rafael Noronha, estou postando seu texto aqui. Foi uma redação para o colégio, com um tema que já rodou por aí. O texto está tão bom que mesmo que ele fuja ao esperado de uma dissertação escolar não puderam evitar de atribuir a ele 50% da nota.


Lendas Urbanas

A cidade é uma aberração capitalista que precisa ser combatida. Viver nesse antro de perdição é assinar uma sentença de morte, tanto no sentido biológico quanto no sentido da espiritualidade do ser. É preciso, portanto, acabar com as PM's e com todo o aparato repressor da população e criar milícias lideradas pelos camponeses nos moldes da ideologia defendida pelo PCO.
Habitar a metrópole é algo perigoso e altamente mortal aos alérgicos e idosos. Isso porque a poluição industrial resultante do CAOS capitalista irrita a mucosa daqueles com hiperativação do sistema imunológico. Tudo isso é parte de uma conspiração norte-americana para matar todos os fracos e selecionar os fortes para trabalharem em suas carvoarias na Lua, onde, por sinal, nunca pisamos.
O crescimento vertical vigente nas cidades é parte de um plano para recriar a Torre de Babel e chegar ao céu. Porém, devido aos pequenos empecílhos gravitacionais, esse plano mostrou-se errôneo e os muçulmanos resolveram derrubá-lo. Além disso, a má-circulação de ar decorrente dessa verticalização visa causar o crescimento da população de bactérias anaeróbicas que serão usadas, futuramente, como armas de destruição em massa.
Tudo isso nos leva a refletir: onde estamos? Para onde vamos? Por que o PCO ainda existe?
Tudo isso tem uma resposta: não sei, mas há quem saiba. E quem será? Quem matou Lineu?
Deve-se ter a consciência de que só a Revolução, A REVOLUÇÃO, será capaz de destronar os líderes capitalistas. A mensagem é clara: unamo-nos, quem bate cartão não vota em patrão; vote PCO.
Viver na cidade é isso: é viver envolto em histórias, estórias e mistérios que fazem dela um local único. Polariza o poder, a economia, a cultura. A cidade polariza pessoas.

Só pra começar esse blog sem nome

Dois textos pra postar hoje, vou começar por um qualquer. Talvez um dia isso vire algo maior.

Vôo no vácuo

Espirrou tantas vezes, logo após o acordar, como o costume ordenava. Seguiram-se momentos de incômodo nasal, e despertou. Veja bem, por mais que essa informação pareça descartável ou desagradável, não é assim que as coisas vão e vêm. Espirrar por si só pode ser tudo, nada, alguma coisa.

Há quem só acorde, e há quem acorde e só espirre. Essas pessoas não despertam, não. Ficam na água quente, esperando que a venha morna ou fria, sem tempo, sem noção.

"Mas que merda de espirro. Quem dera que você não mais espirrasse assim".

De imediato balançou a cabeça como quem diz "não". Não.

Tomou o café e foi para o trabalho. Não há o que dizer. Até porque se fosse perguntado sobre o dia, a resposta seria vazia – não nula, mas vazia.

Depois de um tempo indizível, a epopéia vital de uma mosca, ou sabe-lá-quantas mitoses, chegou em casa.

De repente, um som fora de tom. Um gosto... mas é água! "Fiz um lanchinho pra você". Que doce, que verdadeiramente doce!

Contam por aí que o dia tem vinte e quatro horas. Perdão. Duas dúzias? Mentira sem-vergonha! O dia começa quando se dá por gente, passa uma mosca, geralmente, e volta à noite. É uma pena, mas muitas vezes o dia foge do sol, ou quem sabe foge-se de favor ao astro.


Ao deitar-se, beijou com carinho, como quem diz: Calma! Toda essa parte passa. E antes que nós, por vez, passemos, vamos estar juntos!
Puxou o cobertor e espir-rou.